seprator

Perdas e danos

seprator
07maio 2018
blog_shape

Como se exibisse seus ensinamentos aprendidos na Escola Acadêmica de Coreografia de Moscou, tratou de adentrar pelas pontas dos pés em seu apartamento (momentos de aperto descobrimos dotes impensáveis), ele nunca tinha ido a Moscou, muito menos feito balé…

No outro hemisfério do apartamento, ela (uma cônjuge inocente) sucumbia em sono pesado.

Voltamos o olhar para ele (réu não confesso), que já havia transformado suas destoadas conjugais em hábitos bilaterais. Sua impávida confiança lhe oferecia tranqüilidade, uma tranqüilidade constante, porém efêmera…

O costume advém da prática constante e da falta de punição causada pelo elemento surpresa, nesse caso, tratado de um caso amoroso… Lembremos que a ocasião sempre faz o espertalhão.

De súbito, ao passar por todos os cômodos, se deparou com uma cena terrivelmente assustadora: ela aguardava-o sentada (abraçada com seus joelhos e com a cabeça levemente inclinada para baixo)…

Vocês lembram quando eu disse no início do texto que ela dormia em sono profundo? Mentira! Era só pra dar emoção a essa intrépida relação.

Cochichando educadamente ela fez a pergunta clássica dos contos de traição:

– Onde estava?

– Trabalhando.

– Até essa hora? Fazendo o que?

– Nada!

– “Nada” é uma palavra esperando tradução, especifique-se!

– “Esperar” é uma palavra esperando compreensão. Vou dormir!

– Aqui você não deita! Vá deitar esse corpo usado junto de quem te usou!

Absorto e calado diante do flagra, deu meia volta, fitou efusivamente a porta e se encaminhou rumo à rua.

– O que vou fazer agora?

Um curta metragem passava em sua mente à medida que olhava para trás e via a luz do abajur acessa do quarto deles (agora só dela).

– O que ela está pensando em fazer?

Antes, o proibido garantia 80% da diversão, mas e agora? Com a outra sabendo da outra? O modismo engessa a emoção, e aquele frio na barriga com medo de serem descobertos deixará de apimentar a promiscuidade que os dois tinham, a coisa vai perder o brilho, vai desbotar e… Falir!

Em breve, veremos mais um caso (sobre um caso) de relação remota ávida pela entrada de terceiros…

Qualquer conduta conjugal inadequada e culposa também tem incidência e reincidência. Vale à pena remoer suas ações em razão da causa que provocou a dissolução da sua sociedade conjugal? Hoje ela delicia-se com a vida livre, leve e solta que ele a fez enxergar.

Ele (por sua vez) procura fragmentos no passado à espera por respostas. Em meio ao descaso com o acaso do seu antigo caso ele relembra:

“Ontem à noite, a noite estava bem fria… Tudo queimava e nada aquecia. Hoje vivo apertado, quebrando minha coluna num sofá cama num pombal de 50mt2 no centro da cidade”. Perdi a honra e o conforto num pacote só!

“Ontem à noite, à noite tava fria, e só ficou mais fria pela escolha que eu fiz. Vivemos de escolhas e hoje eu sou a renúncia da escolha que um dia deixou de me tratar como escolha!”!

Leave a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Social

shape
Copyright © Leitura Cura 2018. Todos os direitos reservados