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A migalha nossa de cada dia

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23abril 2018
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Perdi meu emprego há dois meses, na verdade ele me perdeu. Tenho qualificações e sou muito habilidoso no que faço… 

Só não entendo uma coisa: se tenho tantas qualidades, então por que eu fui dispensado? É estranha essa relação de bom grado com as pessoas não é? Geralmente os dedicados e solícitos sempre saem com a marca do tênis alheio impresso no traseiro… 

Perdi meu emprego há dois meses e talvez saiba o motivo de mais uma frustração em minha vida; sou indomável, arredio e indigesto, quer dizer, não digiro qualquer coisa, falou torto eu respondo torto também. Sou como um espelho, o reflexo que as pessoas vêem é a imagem das suas próprias atitudes e ações. 

Perdi meu emprego há dois meses. Na verdade sempre fui um bom aluno, era prolixo e desatento, mas na hora de passar de ano eu tava lá, suado, mas com o diploma na mão. Entretanto, nunca fui adepto às frases pré fabricadas, odeio quando as coisas caem no dito popular. E com essa doutrina rebelde, não cedi a uma bendita frase feita: manda quem pode, obedece quem tem juízo. 

Manda quem pode, obedece quem não tem outro emprego em vista, isso sim. No mundo corporativo, a hipocrisia é o dispositivo essencial para a sobrevivência nas baias: 

– Olá Patrícia, bom dia, tudo bem?

– Tudo bem Sr Pedro, como vai a sua esposa?

– Eu não tenho esposa!

– Oh, desculpe. E os filhos? Como vai a Isadora?

– Também não tenho filhos, muito menos uma filha chamada Isadora.

– Mas me conte Patrícia: E o curso de SAP que você está fazendo, bons resultados?  

– SAP? O que é isso Sr Pedro? Não sei de curso algum, deve ser a Patrícia do RH.

– Hehe, tudo bem então, tenha um bom dia.

– O Sr também. 

Assim é a convivência em uma multinacional. Já notaram que em uma grande empresa, os desconhecidos desconhecem os conhecidos? Mas conhecem protocolos internos do tipo: Integrar-se com desconhecidos mesmo se você não for um conhecido? 

As “majors” vivem de status. Uma vitrine que transmite propositadamente o que não se vive lá dentro. Os líderes permanecerão sempre nos holofotes da fama e do heroísmo enquanto que nós, os vassalos, seremos enterrados com nossos bons corações num cemitério chamado de anonimato. 

O sistema de recrutamento também sofreu alterações com a crescente onda de pessoas desempregadas. Hoje, na tentativa de dizer a verdade, o entrevistador diz a mentira: 

“Olha, adoramos seu currículo, mas você é muito superior a vaga pretendida” 

Isso entra como um alfinete nos tímpanos de quem ouve, dói tanto quanto ir ao podólogo arrancar uma unha encravada. Pior que isso, só ouvindo da namorada: “Olha, não quero mais continuar com esse namoro porque você é muito pra mim”. 

Trabalhar engrandece, enaltece, aborrece e emagrece! Vivemos em uma gestão de conflitos obrigatória para nossa sobrevivência, irrisória para nosso intelecto. Entramos em uma Companhia sabendo mais do que quando saímos dela, isso porque adquirimos os vícios internos e a forma como eles direcionam a empresa… 

Os vícios trazem malefícios, difícil se desvencilhar deles quando mudamos de cenário. Disso não posso falar absolutamente nada. Não tenho vícios! Apenas hábitos e dentro dos meus hábitos existe a escolha da minha dieta, e, sinceramente? Engolir sapos não faz parte do meu cardápio!

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