Nos últimos dias visitei alguns cômodos diferentes dos quais não estava acostumado a visitar, aliás, há algum tempo, não fazia ideia de como era dar um “olá” a mim mesmo e saber se estou bem ou precisando de algo…
Além de não ter avó para visitar, o que me impulsionou esta visita foram às novas tônicas em minha vida, bem como alguns momentos de transição e a exigência de novas disciplinas. Motivos de sobra para bater um bate papo construtivo e amistoso com ela; a minha consciência.
Sendo assim, lá fui eu reativar algumas memórias que insistiam em me trair…
Certo de que “ela” (sim, ela, minhas defesas usam saias e são bem vaidosas) me faria participar do seu joguinho compensatório, fui precavido adotando uma postura mais ouvidora, abismando-me em meus pensamentos.
E nessa grandiloqüência camuflada, nós conversamos abertamente, resgatando antigas e inefáveis situações…
Dentre carrinhos de rolimã, banhos de mangueira aos sábados e os primeiros envolvimentos sentimentais, ela me lembrou de algo em forma de pergunta:
Quando foi a última vez que eu recordei a primeira vez de alguma coisa?
Rebobinei alguns anos e me calei diante da pergunta, notei que ela – ardilosamente – traía meus pensamentos novamente.
De certo, vivemos uma vida corriqueira, tecnológica e cíclica, que não nos deixa dar passos para trás ou longas olhadelas em um porta-retrato.
Quando divagamos extensivamente por uma lembrança, o presente nos proíbe taxativamente e logo retomamos a realidade. Parece que invadimos o playground do prédio vizinho e fomos pegos pelo zelador bem na hora de começar o futebol.
Passado e presente são estados distintos e estão longe de ser uma ilusão persistente (como dizia Einstein). Há de se dar suas devidas responsabilidades para cada uma, mais nada.
Retomando meu diálogo libertário, aproveitei a repentina visita para propor algumas mudanças a fim de me libertar da era napoleônica que vivia minhas defesas e voltar a brincar com certos ineditismos.
Inverti o jogo e perguntei à ela:
Posso reaprender a ser surpreendido?
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